Luiz Manoel
Companhia Brasileira de Petróleo - PETROBRAS - Rio
de Janeiro - Brasil.
1. Introdução
O sistema de aquisição de dados ambientais instalado em
PAT-3 (campo de Atum, na área offshore do Ceará) surgiu
da necessidade da PETROBRÁS de avaliar a continuidade das operações
de mergulho para inspeção de jaquetas fixas (estruturas de
aço destinadas a produção de petróleo no mar),
feitas visando descobrir a existência de trincas (fissuras)
na estrutura da mesma. Através do conhecimento das condições
de vento, onda, corrente e maré na região e usando-se programas
de análise estrutural, pode-se concluir pela necessidade ou não
de se proceder aos mergulhos de inspeção, o que pode significar
uma economia substancial de recursos, pois o custo de instalação/operação
de um sistema de coleta dos dados é bem menor que o custo com mergulhos
de inspeção, além de se dispor do dado para outras
análises que se façam necessárias.
O custo dos equipamentos instalados em PAT-3 é de aproximadamente
R$ 20 mil, enquanto que inspeções em jaquetas com mergulho
têm valor estimado entre R$ 500 mil (dados de 1993) por ano
para todas as plataformas do Ceará (7 plataformas). Supondo uma
manutenção com custo anual igual ao dos equipamentos (20
mil), temos uma economia por ano de 25 vezes o investimento, caso
mais nenhuma junta precise ser inspecionada.
A partir da necessidade de se coletar os dados, a PETROBRAS, através
do seu Centro de Pesquisas (CENPES) especificou os equipamentos, com a
filosofia do menor custo possível (Apenas como comparação,
o custo de um sistema de medição de ondas direcionais do
tipo bóia ou radar/microondas fica em torno de 100 a 200 mil reais,
sem considerar maré, pressão e temp. ar.), e elaborou
o software de aquisição e tratamento dos dados coletados,
que começou a operar em agosto de 1995.
Os dados aquisitados são armazenados em micro (ver figura1,
configuração do sistema) para posterior análise
e processamento, tendo os mesmos sido usados recentemente também
num estudo de impacto ambiental (EIA) para a região offshore
do Ceará/Rio Grande do Norte. Neste trabalho, apresentamos alguns
resultados dos dados de maré coletados.
2. Configuração do sistema
A Figura 1 mostra uma vista geral do sistema, composto por:
a) micro computador com HD de 160 Mb e estabilizador de voltagem
b) sensor de pressão atmosférica
c) tubo de vinil do sensor de pressão (para coletar a pressão
atmosférica externamente à sala onde estão o
micro e o sensor de pressão)
d) gabinete de condicionamento dos sinais, instalado junto ao micro
e) anemômetro (intensidade e direção do vento)
f) sensor de temperatura do ar marca (instalado ao lado do anemômetro)
g) cabo do anemômetro e sensor de temperatura
h) guincho elétrico para subida/descida do correntômetro
i) correntômetro eletromagnético
j) SAD (Sistema de Aquisição de Dados)
l) sensor de pressão para medir ondas e maré
m) cabo para conduzir os sinais do SAD
n) software "PAT3" instalado no micro, para aquisição
e tratamento dos sinais
3. Manutenção preventiva
O sistema, principalmente a parte submersa, necessita de alguns procedimentos de manutenção, alguns dos quais podendo ser diminuidos ou eliminados com algumas alterações do sistema (ver conclusões). Os pontos mais suscetíveis a falhas e a manutenção aconselhada seguem abaixo.
A) SENSOR DE PRESSÃO PARA MEDIR ONDA: trata-se de uma célula de pressão sensível, localizada na parte superior do correntômetro, sendo o ponto mais problemático do sistema. A MANUTENÇÃO DEVE SER FEITA TODA VEZ QUE O SINAL DE ONDA MOSTRADO NO MICRO APRESENTE VALORES ESTRANHOS (por exemplo, aparecem períodos de onda de 512 segundos). Caso não haja nenhum problema, A PERIODICIDADE PARA LIMPEZA DO SENSOR DEVE SER DE 1 (UM) MÊS. A manutenção consiste da limpeza/desobstrução de qualquer incrustação ou impureza que se encontre na entrada do sensor; após a limpeza, deve-se preencher o espaço vazio do sensor com algum óleo mineral (vasilina líquida ou óleo nujol) antes de retornar o equipamento para a água.
B) MICRO COMPUTADOR: o problema do micro é que O WINCHESTER FICA CHEIO NUM PRAZO DE APROXIMADAMENTE 2 MESES, devido a grande quantidade de dados armazenados (séries temporais de vento, onda e maré). A única maneira atualmente de sanar o problema é copiar os arquivos do Winchester para disquetes ou outro meio magnético. No futuro, a interligação do sistema na rede PETROBRAS irá permitir o acesso direto aos dados do pessoal do CENPES, o que irá resolver o problema.
C) SAD/CORRENTÔMETRO: deve ser limpo mensalmente para retirada de incrustação. Pode haver penetração de água na conexão do cabo elétrico no equipamento, caso isto aconteça, uma simples limpeza pode não ser suficiente, sendo possível que se tenha que trocar o terminal do cabo elétrico (observamos, em maio/97, que o terminal do cabo se encontrava rachado, sendo aplicada fita de alta fusão para tentar conter a trinca).
D) GUINCHO: verificar de 3 em 3 meses seu estado geral. Quando da subida/descida do equipamento deve ser CONSERVADO O COMPRIMENTO DE CABO DENTRO D'ÁGUA, pois o mesmo está calculado para ficar cerca de 5 metros dentro d'água mesmo na maré baixa (baixamar).
E) ANODOS DO CORRENTÔMETRO: são 2, um na parte superior
e outro na inferior. Quando das inspeções mensais do equipamento
deve-se VERIFICAR SEU DESGASTE, e se necessário, trocá-los.
4. Resultados preliminares
A plataforma de PAT-3 encontra-se a aproximadamente 45 km do litoral
e 100 km de Fortaleza (Fig. 2). As tabelas que se seguem representam uma
primeira análise dos dados coletados em PAT-3. Nelas já foram
excluídos dados expúrios, tais como valores atípicos,
fora do range dos sensores ou com muitos valores repetidos, dentro
dos critérios de qualidade estabelecidos para armazenamento em Bancos
de Dados Ambientais.
O sensor de pressão instalado em PAT-3 se constitui de uma pequena
célula de pressão com um orifício de cerca de 0,5
cm de diâmetro que registra as variações de pressão
no sensor, que têm uma relação direta com o nível
instantâneo do mar no instante da medição, que nada
mais é que a onda (mais a maré) passando por sobre o sensor.
Através do software, as freqüências pequenas (variação
horária) são associadas à maré, e as altas
freqüências (2 a 30 segundos) são associadas à
onda.
O problema no sensor de pressão advém do fato de
que com o tempo (a partir de 1 mês do equipamento
dentro d'água) começa a haver incrustação na
entrada do sensor, o que faz com que o mesmo funcione como um filtro, só
deixando passar as baixas freqüências, não dando tempo
para que o sensor responda às variações rápidas
do nível do mar, como no caso de ondas, sem no entanto perder qualidade
no caso dos dados de maré.
Nesta locação, o regime de correntes é regido
principalmente pela Corrente das Guianas,
que é uma ramificação da Corrente Equatorial Sul Atlântica,
que se divide em Corrente do Brasil e das Guianas quando encontra o litoral
do Brasil no Rio Grande do Norte.
A região apresenta amplitudes de maré relativamente
alta (da ordem de 3 metros), o que se verificou não só nas
medições realizadas como também nas Tábuas
de Marés publicadas pela DHN (Diretoria de Hidrografia e Navegação)
da Marinha.
Figura 2
figura3
4.1. Maré reproduzida X maré observada
Conforme comentado no ítem 4.2, a obstrução de
parte do sensor de pressão submerso por incrustações,
funciona como um filtro "passa baixa", piorando a qualidade dos dados de
onda, sem no entanto alterar a qualidade dos dados de maré. É
claro que a falta de manutenção por períodos muito
longos pode propiciar a total obstrução do sensor, o que
deverá se refletir também na medição da maré.
Os dados coletados tiveram, até agora, um aproveitamento excelente
no tocante à maré. O gráfico que se segue faz uma
comparação entre a maré prevista (linha azul) e a
observada (em vermelho), onde pode-se notar a perfeita coincidência
em fase, com pequenas diferenças apenas nas amplitudes.
Para estimativa da maré prevista, utilizou-se o software de
Análise e Previsão de Marés do Alm. Alberto dos Santos
Franco, enquanto que a maré medida foi obtida depois de retirada
a média dos dados brutos aquisitados. No período considerado,
podemos notar marés máximas da ordem de 3 metros.
O conjunto de dados como um todo está muito bom, apenas deve-se
corrigir a média quando dos períodos de manutenção,
pois nestas datas o relançamento do equipamento pode dar-se em profundidades
um pouco diferentes, dependendo do comprimento de cabo no guincho.
4.2. Pressão atmosférica
A pressão atmosférica apresentada já está
corrigida para o nível médio do mar. Nesta correção,
foi considerada uma altura de 23 metros em relação ao nível
médio, valor este estimado como sendo a altura do sensor de pressão
quando o mesmo se encontrava no laboratório de química.
A partir do dia 23/05/97, a altura do sensor de pressão passou
de 23 para 26 metros, pois o mesmo mudou do laboratório de química
para a sala de ar condicionado, um andar acima.
A Tabela que se segue fornece as frequências de ocorrência
dos valores aquisitados corrigidos, desde outubro/95 até abril/97.
PRESSÃO ATMOSFÉRICA AO NÍVEL DO MAR EM PAT-3 (CEARÁ)
INTERVALO DE CLASSE | FREQUÊNCIA | PORCENTAGEM (%) |
1007 - 1008 | 0 | 0.00 |
1008 - 1009 | 2 | 0.02 |
1009 - 1010 | 105 | 1.03 |
1010 - 1011 | 500 | 4.91 |
1011 - 1012 | 1334 | 13.11 |
1012 - 1013 | 2256 | 22.17 |
1013 - 1014 | 2421 | 23.79 |
1014 - 1015 | 1833 | 18.01 |
1015 - 1016 | 1104 | 10.85 |
1016 - 1017 | 454 | 4.46 |
1017 - 1018 | 138 | 1.36 |
1018 - 1019 | 28 | 0.28 |
1019 - 1020 | 0 | 0.00 |
5. Conclusões
Como um todo, a estação de coleta de dados ambientais
de PAT-3 vem apresentando bons resultados. Considerando-se uma taxa de
recuperação para dados de onda de 40 % (estimativa), a campanha
apresenta uma taxa global de recuperação de 67 %. A Tabela
abaixo resume a campanha.
Parâmetro | Início da coleta | Fim da coleta | Máximo de dados possíveis | Dados aquisitados | Taxa de recuperação (%) |
VENTO | 23/8/95; 12 h | 30/4/97, 23 h | 14.052 (*) | 11.416 | 81,24 |
ONDA | 23/8/95;12 h | 30/4/97;12 h | 14.052 (*) | 5.621 | 40,00 |
CORRENTE | 23/8/95; 12 h | 30/4/97; 12 h | 14.052 (*) | 11.631 | 82,77 |
MARÉ | 23/8/95;12 h | 30/4/97;12 h | 14.052 (*) | 11.631 | 82,77 |
TEMP DO AR | 01/10/95; 0 h | 30/4/97;12 h | 13.128 (*) | 4.600 (**) | 35,04 |
PRESSÃO | 01/10/95; 0 h | 30/4/97; 12 h | 13.128 (*) | 10.175 | 77,51 |
(*) subtraimos, do total de horários possíveis de aquisição (14.772 ou 13.848, dependendo da data de início), os dias presumíveis em que o sistema estava em manutenção, considerando uma manutenção a cada 2 meses, com 3 dias de duração (total de 10x3 = 30 dias = 720 dados)
(**) o sensor de temperatura esteve parado por muito tempo, o que prejudicou a taxa de recuperação da campanha como um todo. Na verdade, inicialmente não estava prevista a coleta deste parâmetro, tendo-se aproveitado cabeamento disponível e um sensor existente no CENPES. Se este parâmetro não fosse considerado na taxa de recuperação, a mesma iria para 73 %, o que classifica a campanha como boa.
O ponto que requer maiores cuidados é realmente o sensor de pressão
para ondas, sendo esta limitação função do
custo do equipamento. Qualquer aumento no intervalo de inspeção
passa pela troca do sensor por outro tipo de medição de onda,
o que irá encarecer o sistema.
O problema do Winchester do micro poderá ser resolvido quando
da instalação da rede PETROBRAS na plataforma de PAT-3 (quando
do nosso embarque, foi-nos informado que a ligação em rede
estava para acontecer), sendo necessário nesta ocasião um
intercâmbio entre o pessoal de informática da região
e do CENPES para acerto de detalhes tais como endereço TCP-IP e
disponibilização dos arquivos para acesso remoto dos usuários.
Uma vez instalada a rede, os dados poderiam ser baixados diretamente para
o Banco de Dados Ambientais SIMO, descongestionando o winchester e propiciando
a rápida detecção de problemas em algum dos sensores.