MONITORAMENTO DAS CONDIÇÕES GEODINÂMICAS EM MARÉGRAFOS: CANANÉIA E UBATUBA

Denizar Blitzkow
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 O monitoramento do nível do mar sempre foi de grande interesse da ciência e em particular da navegação marítima. Entretanto, o processo de aquecimento global pelo qual o planeta vem passando nos últimos anos tem levado a uma nova ênfase na atenção ao nível do mar. O aumento da temperatura do globo resulta num volume maior de água nos oceanos devido ao derretimento das geleiras e da camada polar. No Brasil este efeito já é sentido em vários locais. Na cidade litorânea de Caiçara  do Norte, Estado do Rio Grande do Norte, o mar avançou 50 metros nos últimos dez anos. O Instituto Oceanográfico da USP mantém há várias décadas marégrafos registradores  nas cidades de Cananéia e Ubatuba do litoral de São Paulo. Recentemente, foi colocado na Base de Pesquisa "Dr. João de Paiva Carvalho" em Cananéia um novo aparelho, um marégrafo de fundo oceânico, equipamento mais moderno que associa as variações do nível do mar com a diferença de pressão da camada de água acima do sensor colocado no fundo do mar. O fato da água ser uma substância muito viscosa, ela adquire rapidamente uma posição de equilíbrio quando em situação de repouso. As águas do mar, entretanto, não estão em repouso e nem possuem condições físico-químicas homogêneas. Existem as correntes oceânicas, as diferenças de salinidade, de temperatura, de partículas em suspensão, etc. Entretanto, o movimento de maior amplitude do mar são as marés, oriundas do efeito gravitacional diferencial dos astros, em particular do sol e da lua, na superfície e no centro de massa da Terra. Em última instância, as marés são fruto do movimento de rotação da Terra, portanto, com uma forte característica periódica. O registro das oscilações do nível do mar durante períodos longos, meses ou mesmo anos, permite materializar uma posição de equilíbrio como a média das observações. Se o procedimento for adotado em inúmeros pontos do planeta, será possível materializar um nível médio global. Se o nível do mar não se mantiver constante, este fato poderá ser constatado ao longo do tempo. O problema, entretanto, não é muito simples. É essencial controlar os processos dinâmicos da crosta nos locais onde os marégrafos estão instalados. Aqueles processos têm diferentes origens. Primeiramente, a crosta terrestre sofre, embora com uma amplitude bem menor, o mesmo efeito do oceano com relação ao sol e à lua: são as chamadas marés terrestres. Em segundo lugar, o aumento do nível da água do mar por força das mesmas marés representa uma carga extra sobre a crosta. Isto resulta num movimento vertical diferencial. Estas e outras considerações levam a concluir que o monitoramento do nível do mar não é tarefa simples.
O Instituto Oceanográfico (IO), a Escola Politécnica (EPUSP), através do Laboratório de Topografia e Geodésia do Departamento de Engenharia de Transportes e o Instituto Astronômico e Geofísico (IAG-USP), através do Grupo de Geofísica da Litosfera do Departamento de Geofísica, definiram um programa conjunto de complementação das observações maregráficas em Cananéia e Ubatuba usando tecnologias modernas. Para isso, estão sendo realizadas observações com o sistema GPS nas duas estações. Um pilar especial foi construído em cada local dotado de um dispositivo de centragem forçada. Periodicamente é colocado um receptor GPS nos locais realizando observações durante vários dias. Procede-se também a um nivelamento geométrico de precisão entre o pilar e o marégrafo visando monitorar qualquer movimento vertical da estrutura que sedia o registrador em relação ao pilar GPS. As observações GPS são feitas no modo diferencial utilizando as estações da RBMC de Curitiba e Presidente Prudente e mais um vértice da rede do estado de São Paulo localizado em Registro, no caso de Cananéia, e Paraibuna, no caso de Ubatuba.. Isto permite monitorar possíveis movimentos geodinâmicos no dois locais. Estão sendo feitos os preparativos necessários para proceder a um programa de observações gravimétricas nos mesmos locais o que constituirá uma outra fonte de informação para controle geodinâmico.
 Participam deste esforço os professores Afrânio R. de Mesquita e Carlos A. de S. França do IOUSP, Nicola Paciléo Netto e Edvaldo Simões da Fonseca Junior da EPUSP, Wladimir Shukowsky e Marta Sílvia Maria Mantovani do IAG-USP e Jorge Luis Alves Trabanco da Universidade de Campinas