Alberto dos Santos Franco.
Instituto Oceanográfico da Universidade de SãoPaulo.
SP - Brasil.
Introdução
Em agosto deste ano a firma de engenharia INTERNAVE instalou em Alcântara,
MA, um marégrafo de pressão com registro digital, e, após
17 dias de funcionamento contínuo, com intervalo de amostragem de
15 minutos, solicitou-me que fizesse uma análise rápida desse
registro, que se iniciou as 12:00 h do dia 18 de setembro de 1998.
Dada a exiguidade da série foi necessário estudar qual
a melhor análise que se poderia fazer de tão curto registro.
Como primeira abordagem efetuei com o programa ANHAMA do conjunto PAC de
10 programas, por mim elaborados, uma análise direta que me forneceu
apenas 16 componentes.
Em vista de tal pobreza, resolvi experimentar a análise espectral
cruzada da maré prevista, na Ponta da Madeira, com a observada,
em Alcântara. Veremos a seguir alguns detalhes.
Análise espectral cruzada
Em primeiro lugar cabem alguns comentários sobre o serviço
de marés, no terminal da Ponta da Madeira, operado pela Cia. VALE
DO RIO DOCE. Trata-se de um serviço exemplar, pois os dados maregráficos
são testados varias vezes por dia e a série no tempo é
submetida ao teste de Karunaratne para a correção dos inevitáveis
erros grosseiros cometidos durante a digitalização.
De fato a CVRD, que já fornece ao serviço de praticagem,
previsões com constantes harmônicas obtidas de uma análise
de 214 horas, enviou-me, para análise um registro de cerca
de 4 anos.
Em 1995, tive a oportunidade de publicar, no número de março
da revista do Bureau Hidrográfico Internacional, um trabalho mostrando
que havia conseguido generalizar método, antes limitado às
séries de 10x214 horas, correspondentes 18,69 anos julianos.
A análise de uma série de 2 x214 alturas horárias
permitiu que as constantes harmônicas de 108 componentes, que resistiram
ao teste estatístico, fossem aproveitadas para oportuna previsão
harmônica.
Ora, a ponta da Madeira, dista cerca de 9 milhas de Alcântara,
onde a maré tem características análogas. Assim sendo,
nada mais lógico do que efetuar uma análise espectral cruzada
da curva da maré prevista para a Ponta da Madeira, para o mesmo
período que a maré observada em Alcântara, com a curva
da maré observada nesse lugar. Os resultados de tal procedimento
superaram a expectativa, pois para a maior parte das componentes a coerência
foi muito próxima da unidade e os resíduos espectrais, ou
seja as variâncias individuais muito baixas.
Alcântara (MA) - Composição entre as marés
observada (linha cheia) e calculada (linha tracejada) em 15/11/1982
HORAS
Abandonando as componentes cujas amplitudes eram inferiores às
raízes quadradas das respectivas variâncias, restaram ainda
75 componentes que poderiam ser utilizadas na previsão. Comparando
a curva prevista para o período da observação com
a observada houve, praticamente a coincidência das duas curvas.
Não satisfeito com este teste e tendo tido conhecimento de que
a Diretoria de Hidrografia e Navegação havia observado alturas
horárias da maré em Alcântara em novembro de 1982,
resolvi calcular as alturas nesse local, utilizando as 75 componentes,
para o dia 15 de setembro de 1982. 0 resultado que vemos na figura anexa
dispensa comentários.
Agradeço ao Professor Dr. Carlos Eduardo d' Almeida pela permissão
de utilizar os dados de Alcântara e ao Sr. Cesar Luciano Felippe
da Rocha que me forneceu as alturas horárias da maré na Ponta
da Madeira.