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Recuperado Marégrafo pelágico MARK IV, lançado em 1995 no Atlântico Sul, em 32ºS; 36ºW, a 2604 m de profundidade pelo Navio Antártico Britânico: "RRS James Clark Ross"

Afranio Rubens de Mesquita & Carlos Augusto de Sampaio França, Instituto Oceanográfico da USP
Robert Spencer & Ian Vassie, Pol, UK

Às 7 horas e 31 minutos, horário brasileiro de verão, de 31 de Janeiro de 1997, utilizando o barco Camaroneiro MARFRIO da cidade de Santos, Figura 1, o Instituto Oceanográfico da USP fez a recuperação por meios de comunicação acústica, do Marégrafo pelágico MARK IV, lançado em 32ºS; 36ºW, a 2.604 m de profundidade, pelo Navio Antártico Britânico "RRS James Clark Ross", em 1 de maio de 1995.

Fig. 1. Barco MARFRIO, Camaroneiro de 23 m de comprimento, chapa de aço, acomodações para 7 pessoas, autonomia de 35 dias, sistema de navegação GPS/cartas GEBCO/COI/UNESCO.

A utilização do barco, se deu, em caráter de emergência, (após 31 de Janeiro a recuperação teria sido impossível, ou pouco provável, devido ao desgaste, pelo uso além do previsto, das baterias do MARK IV), em razão dos compromissos assumidos pelo IOUSP com o POL, (Proudman Oceanographic Laboratory), de Bidston, Inglaterra, dentro do convênio de cooperação científica existente entre a USP e o POL, diante da impossibilidade de se realizar cruzeiro oceanográfico com o N/Oc. "Prof. W. Besnard", da USP, que ainda se encontra no estaleiro da Wilson & Sons em Santos, em longo período de reparos.

A escolha do barco para a realização da recuperação foi feita por sua excelente estrutura, capacidade de permanência no mar por longo período (1 mês), que o permitiu navegar cerca de 1500 milhas em mar aberto na presente tarefa; também em razão do ótimo sistema de posicionamento GPS de grande precisão (25 m) e navegação, através das cartas GEBCO/COI/UNESCO, que possui, bem como por apresentar custos operacionais condizentes com os recursos fornecidos pela FAPESP para a tarefa, inicialmente prevista para ser feita com o N/Oc. "Prof. W. Besnard" da USP.

Às 2 horas do dia 26 de Janeiro de 1997, com chuva torrencial , partimos (juntamente com o Mestre; o Motorista, o Cozinheiro e o Marinheiro, tripulantes do MARFRIO) do porto de Santos com destino ao "ponto geográfico" desejado, 31º59.9´S; 36º00.7´W, onde se localizava o equipamento no fundo do mar. Fortes ventos, 30 a 40 nós, produziram "mar" da ordem de 3 a 6 na escala Beaufort, que aumentaram o desconforto do "MARFRIO", durante quase todo o período de cinco dias que levamos para cobrir a distância de cerca de 750 milhas, que separa a cidade de Santos até o "ponto geográfico" onde se localizava o Marégrafo pelágico MARK IV .

Guiados pelo sistema de posicionamento GPS (Global Positioning System) alcançamos o "ponto" às 6 horas e 13 minutos do dia 31 de Janeiro de 1997, praticamente "em cima" da posição do Marégrafo, que permanecia no fundo do oceano e que prontamente respondeu ao "protocolo de comunicação acústica" preestabelecido, indicando que as suas baterias de comunicação estavam ainda operacionais. Após percorridos os códigos de comunicação acústica (necessários para evitar liberação acidental do equipamento), durante cerca de 25 minutos, as baterias do circuito de liberação foram acionadas, reagindo favoravelmente ao sinal acústico e provocando a soltura do Marégrafo, do lastro que o mantinha preso ao fundo do mar, para alívio de todos que ainda temiam pelo desgaste também desse conjunto de baterias.

Todo o processo de comunicação acústica foi registrado em equipamento Nagrafax, de fabricação Suíça, cujos registros dos sinais acústicos emitidos de bordo e emitidos pelo MARK IV, permitiram também estimar em 1 hora e 10 minutos o intervalo de tempo necessário para que ele, liberado de seu lastro, sob a força do empuxo produzido por quatro esferas de vidro (Benthos), chegasse a superfície do mar. O MARK IV apareceu na superfície na hora estimada, a cerca de 500 m de distância, tornando desnecessária a utilização do radiogoniômetro para sua localização no mar, pois foi possível descobri-lo através de observação visual, por ter emergido bastante próximo ao barco.

Marégrafo pelágico MARK IV, com cerca de 150 kg de massa, foi içado à bordo pela força de guincho às 8 horas e 31 minutos , horário brasileiro de verão.

A Figura 2 registra o instante da recuperação da estrutura de alumínio com o equipamento registrador, os sensores de pressão e temperatura e bóias de fabricação Benthos para flutuação, que constituem o Marégrafo.

Fig. 2. Marégrafo Pelágico MARK IV recuperado em 32ºS; 36ºW à bordo. Da esquerda para a direita vê-se Eng. Robert Spencer, (POL),Cozinheiro Inacio, Mestre Luiz, Motorista Antonio, Marinheiro Rodrigo e o Físico Carlos Augusto Sampaio França (IOUSP)

MARK IV, já à bordo, totalmente limpo pela água, ao longo de sua trajetória na água do mar, durante a vinda do fundo do mar à superfície , livre de qualquer corrosão, que pudesse ter sido ocasionada pelo longo período de exposição em altas pressões (à 2.604 m) no fundo do mar, juntamente com os seus felizes protagonistas.

As incertezas quanto ao efetivo registro dos dados de nível do mar contidos no Marégrafo, contudo, ainda  perduraram até que a leitura dos registros magnéticos dos dados, feitos nos Laboratórios Instrumentação Eletrônica do IOUSP e do POL, confirmou que as baterias dos dois sensores de pressão (Digiquarts) do MARK IV foram totalmente consumidas no período de um ano e meio de medições (Fig. 3) e que os registros de nível do mar estariam totalmente perdidos, não tivessem as baterias do sensor de temperatura permanecido energizadas, até a data da leitura nos laboratórios, permitindo a contagem de tempo total de amostragem, através da contagem do número de intervalos de registro dos dados. Essas incertezas teriam se tornado em amarga realidade, se a recuperação tivesse sido feita no mês de Fevereiro de 1997, por exemplo, quando as baterias dos sensores de temperatura teriam também se esgotado, justificando dessa forma os esforços que foram evidados para a urgência na realização em emergência do cruzeiro de recuperação até o mês de Janeiro de 1997.

Fig. 3. Dados de nível do mar medidos pelo MARK IV em 32ºS; 36ºW no período de 1 de maio de 1995 até 12 de junho de 1996. Em ordenada são mostrados os dados medidos pelos dois sensores digiquartz ,em cm, (linhas A e B), juntamente com os valores em freqüência da temperatura da água do mar registrados pelo sensor de temperatura desde 1 de Maio de 1995 até 31 de Janeiro de 1997, (linha C). Nas linhas A e B, considerando apenas o sistema Terra-Lua e admitindo-se que a única força existente no sistema é a força gravitacional, as flutuações em relação à média se mantém comedidas, pelo que pode ser então considerado a "viscosidade do espaço/tempo", caso contrário elas se tornariam muito grandes e a água do mar se perderia no espaço.

As medições do nível do mar através de Marégrafo pelágico são feitas em mar aberto, fora da orla continental e se constituem nos melhores registros das efemérides do sistema Terra - Lua - Sol , feitas em vários pontos do Oceano Atlântico, através de observações não permanentes, pelo programa ACLAIM (Antarctic Circumpolar Current Levels from Altimetry and Island Measurements) do POL, UK e na plataforma continental Brasileira pelo projeto PAVASAS (Pontos Anfidrômicos e Variações Sazonais no Atlântico Sul), do IOUSP.

Agradecimentos

À FAPESP, CNPq e ao British Council, nossos agradecimentos pelo apoio financeiro concedido.